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Anabela Mota Ribeiro

Leonor Baldaque (Quest. Proust)

24.08.13

Proust disse que uma necessidade de ser amado e cuidado era a sua característica mais marcante. Mais do que ser admirado. Qual é a sua? 

A procura da liberdade.


Qual é a qualidade que mais aprecia num homem? Proust falou de “charme feminino”... 

A nobreza.


E numa mulher? Ele mencionou “franqueza na amizade” – golpe baixo para as mulheres ou sagaz comentário?  

A leveza, o humor (porque não espero de uma mulher que seja franca).


Ternura, desde que acompanhada de um charme físico..., era o valor mais precioso nas amizades de Proust. E nas suas? 

A lealdade.


Vontade fraca e incapacidade para entender, foi a resposta que deu quando lhe perguntaram qual era o seu principal defeito. Partilha destes defeitos? E que outros pode apontar? 

O tempo que passei, adolescente, a inventar pecados para agradar ao confessor desgostou-me do prazer das introspecções deliciosamente dolorosas.


Qual é a sua ocupação favorita? Amar, disse ele... 

A vida com o P.


Qual é o seu sonho de felicidade? A resposta de Proust é esquiva: não fala de molhar madalenas no chá e diz que não tem coragem de o revelar... Mas que não é grandioso e que se estraga se for posto em palavras. O que é que compõe o seu quadro de felicidade? 

Amor, trabalho, beleza.  


O que é que na sua cabeça seria a maior das desgraças? Proust respondeu, aos 20 anos: “Nunca ter conhecido a minha mãe e a minha avó”. Mas aos 13 respondeu apenas quando lhe perguntaram pela maior dor: “Ser separado da mamã”.  

Que não houvesse mais Verões — nem Invernos.


Quando lhe perguntaram o que é que gostaria de ser, respondeu: “Eu mesmo”, aos 20, e Plínio, o Novo, aos 13. As suas respostas seria diferentes? Quem gostaria de ter sido aos 13 anos? E agora? 

Aos 13, a Emily Brontë ou a Catarina da Rússia. Hoje, eu própria.


Proust gostaria de viver num país onde a ternura e os sentimentos fossem sempre correspondidos. O país onde gostaria de viver existe deveras? Onde fica?  

Contentar-me-ia se Paris fosse à beira-mar.


Quais são os seus escritores preferidos? No momento em que respondeu, Proust lia com especial prazer Anatole France e Pierre Loti. 

Victor Hugo, Virginia Woolf, Shakespeare, Canetti, Sagan… 


E os poetas? Ele mencionou dois, e um deles faz parte das listas eternas: Baudelaire. 

Baudelaire, claro, e Lucano, Victor Hugo, Jouve, Dickinson, Donne, Keats, Blake... 


Qual é o seu herói de ficção preferido? Aos 13 anos, Proust falou de Sócrates e Maomé como figuras históricas de eleição... E aos 20, referindo-se às mulheres, elegeu Cleópatra. 

Orlando (o de Virginia Woolf) e Heathcliff.


Quem é o seu compositor preferido? Aos 13 anos, escreveu Mozart, aos 20 Beethoven, Wagner, Schumann. Mas Proust não podia conhecer Tom Jobim ou Cole Porter... 

A música de câmara de Brahms, os concertos de Rachmaninov para piano e orquestra, o concerto de Elgar para violoncelo e orquestra, e todo o Gainsbourg.


Proust não foi contemporâneo de Rothko. E escolheu Da Vinci e Rembrandt como pintores favoritos. 

Goya, Whistler, Fragonard, Bonnard…


Quem são os seus heróis da vida real? Ele apontou dois professores.  

Spinoza, Nietzsche, Deleuze, cuja vida e obra são indissociáveis. E políticos corajosos, como Jaurès ou Gramsci.


“Das minhas piores qualidades”, respondeu o escritor da “Recherche” quando lhe perguntaram do que gostava menos. E no seu caso? 

A estupidez e a falta de coragem.

 

Que talento natural gostaria de ter? As respostas de Proust são óptimas: “Força de vontade e charme irresistível”!  

Ter voz para cantar ópera.


Como gostaria de morrer? “Um homem melhor do que sou, e mais amado”.  

« Um homem livre não pensa na morte » (Spinoza)


Qual é o seu actual estado de espírito? “Aborrecido. Por ter que pensar acerca de mim mesmo para responder a este questionário”. Traz-lhe aborrecimento pensar em quem?

Bush, Sarkozy.


Por fim, preferiu não responder qual era o seu lema, temendo que isso lhe trouxesse má sorte... É supersticioso como Proust? O que é que o faz correr? 

Sou, mas não como Proust  — um dos meus lemas é de Virgílio, « não seguir as facilidades menores ».

 

 

 

Publicado originalmente no Jornal de Negócios no Verão de 2010